Foram executados três empresários, um político, um advogado, um líder rural, um jornalista e uma líder indígena
POR OSWALDO VIVIANI
Oito pessoas já morreram no Maranhão, vítimas de crimes de pistolagem, de outubro do ano passado até abril deste ano. Isso significa uma média de mais de um homicídio por encomenda por mês. No levantamento, o Jornal Pequeno não considerou casos de prováveis acertos de contas entre criminosos. Dos oito assassinatos por encomenda em sete meses, três ocorreram na capital do estado, São Luís. Os outros cinco aconteceram em São José de Ribamar, São José dos Basílios, Gonçalves Dias, Buriticupu e Grajaú. Morreram três empresários, um político, um advogado, um líder rural, um jornalista e uma líder indígena.
A delegada-geral de Polícia Civil do Maranhão, Maria Cristina Resende Meneses, afirmou na sexta-feira (4), em entrevista à TV Mirante – do grupo de Comunicação em que trabalhava o jornalista Décio Sá, assassinado a tiros no último dia 23 – que a maioria desses crimes 'não é de pistolagem' (veja texto em destaque).
Cova rasa – O primeiro assassinato de pistolagem nos últimos sete meses aconteceu em 14 de outubro do ano passado, em São José de Ribamar. Naquele dia, o empresário da construção civil Marggion Lanyere Ferreira Andrade, de 45 anos, foi morto com um tiro na nuca e enterrado numa cova rasa, num terreno de sua propriedade, no Araçagi.
A polícia apontou como mandantes do crime o vereador de Paço do Lumiar (município vizinho a São Luís) Edson Arouche Júnior, o 'Júnior do Mojó', 43 anos, e o corretor de imóveis Elias Orlando Nunes Filho, 57, que, segundo a polícia, comandavam um amplo esquema de grilagem de terrenos em São Luís. Marggion teria reagido contra a grilagem de seu terreno e pagou com a vida.
Eleito em 2008 pelo PSL, 'Júnior do Mojó' – que, como Elias Orlando, continua foragido – renunciou ao cargo em 14 de março último.
Foram presos até agora apenas o suposto executor e dois acusados de serem cúmplices do crime: o ex-presidiário Alex Nascimento de Sousa, Roubert Sousa dos Santos e um adolescente, respectivamente.
Ex-prefeito assassinado – O ex-prefeito de São José dos Basílios, Francisco Ferreira Sousa, o 'Chico Riograndense' (DEM), de 69 anos, foi assassinado a tiros, na manhã de 7 de janeiro deste ano, numa estradinha que dá acesso ao município, à altura do povoado Poção.
O ex-prefeito conduzia uma caminhonete Fiat Strada quando foi alcançado por uma moto preta, ocupada por dois homens. A moto emparelhou com a caminhonete e o 'garupa' sacou uma pistola calibre 380, efetuando vários disparos na direção de 'Chico', que foi atingido por ao menos quatro tiros na cabeça.
'Chico Riograndense' estava acompanhado de um trabalhador rural, identificado como Loriel Pereira da Silva, que não sofreu ferimentos graves.
Loriel revelou à polícia as características dos motoqueiros – que não usavam capacetes –, mas até hoje a polícia não divulgou os retratos falados dos criminosos nem prendeu ninguém.
Mortos na própria empresa – Dois empresários, naturais da cidade baiana de Barrocas, foram assassinados por um pistoleiro em São Luís, na tarde de 11 de janeiro. José Mauro Alves de Queiroz, de 57 anos, e José Queiroz Filho, o 'Zezito Queiroz', 68, eram irmãos, e foram mortos dentro da própria empresa da qual eram sócios – a recicladora de óleo Replub Comércio e Indústria de Derivados de Petróleo, localizada no KM 10 da BR-135, no Bairro Maracanã.
O pistoleiro conseguiu chegar ao escritório dos irmãos dizendo-se cliente. Uma vez diante dos empresários, desfechou um tiro na cabeça de José Mauro e dois, também na cabeça, em 'Zezito Queiroz'. O executor fugiu do local na mesma moto em que chegou – uma Honda Bros preta, cuja placa não foi anotada.
A polícia chegou a divulgar o retrato falado do matador, mas até hoje o homicídio não foi elucidado.
Na porta de casa – O advogado criminalista João Ribeiro Lima, 54 anos, morreu no Hospital de Urgência e Emergência de Presidente Dutra, no início da manhã de 14 de março, 12 dias depois de ser atingido no abdômen com um tiro de pistola calibre 380, quando estava sentado na porta de sua casa, no município de Gonçalves Dias.
Os assassinos chegaram numa moto num momento em que faltava luz na cidade. Fizeram dois disparos em direção à vítima – apenas um a atingiu – e fugiram em seguida.
Antes de morrer, João Ribeiro Lima havia procurado a polícia dizendo estar sendo ameaçado de morte.
Emboscada – O líder rural Raimundo Alves Borges, o 'Raimundo Cabeça', de 53 anos, foi morto com três tiros (um na cabeça e dois nas costas) em Buriticupu, no entardecer no dia 14 de abril.
Em 2 de maio – 18 dias após o crime –, foram presas seis pessoas, acusadas de participação no assassinato: José de Assis Alencar, o 'Zé de Trinta'; Manoel da Silva Oliveira, o 'Manelão' (apontado como executor); Francisco Teixeira Oliveira Filho (que estaria pilotando uma moto usada na execução e fuga); José Ferreira dos Santos, o 'Zé Perez'; Antonio de Sousa Santos (o 'Toinho', filho de 'Zé Perez'); e José de Sousa Ramos Santos,o 'Zequinha'. Os três últimos seriam os mandantes.
De acordo com a polícia, 'Raimundo Cabeça' foi alvo de pistolagem porque grileiros de terras da região de Buriticupu – entre eles, 'Zé Perez' – estavam movendo várias ações de reintegração de posse contra o líder camponês, que se preparava para uma audiência na Justiça.
Jornalista executado – No final da noite de 23 de abril, uma segunda-feira, o jornalista Décio Sá, 42 anos, foi executado com seis tiros – pelo menos três deles na cabeça – por um pistoleiro, no bar Estrela do Mar, na Avenida Litorânea, em São Luís.
Décio trabalhava na área política do jornal O Estado do Maranhão – de propriedade da família Sarney – e mantinha um blog.
A polícia admitiu que o crime foi de encomenda, mas nem o executor nem o(s) mandante(s) foram ainda identificados. Duas pessoas foram presas temporariamente (30 dias) em 26 de abril. Há informações, não confirmadas oficialmente, de outras prisões. As investigações correm sob sigilo – decisão administrativa, não judicial.
Pistolagem na aldeia – Em 28 de abril, a cacique Maria Amélia Pereira Guajajara, 52 anos, também foi assassinada, com dois tiros, na aldeia Coquinho 2, em Grajaú. A aldeia faz parte da Terra Indígena Canabrava, que se estende por três municípios – Grajaú, Barra do Corda e Jenipapo dos Vieiras.
Dois homens que estavam numa moto participaram do crime.
O Ministério Público Federal (MPF) pediu à Funai, à Polícia Federal e à Polícia Rodoviária Federal que apurem o assassinato.
A cacique pode ter sido vítima dos constantes conflitos na área indígena entre índios e não-índios infiltrados nas aldeias. Maria Amélia era contrária à presença dos forasteiros.
Tráfico de drogas nas aldeias e assaltos na BR-226 – que corta a Terra Canabrava – são constantes e podem ter a ver com o homicídio.
CPI – Uma CPI da Pistolagem pode ser instalada pela Assembleia Legislativa do Maranhão nos próximos dias. A proposta é do deputado Bira do Pindaré (PT). Até a quinta-feira (3), 13 deputados já haviam rubricado o documento. São necessárias catorze assinaturas para que a CPI seja aprovada.
Para delegada-geral, maioria dos crimes não caracteriza pistolagem
A delegada-geral de Polícia Civil do Maranhão, Maria Cristina Resende Meneses, declarou, em entrevista à TV Mirante, na sexta-feira (4), que a maioria dos crimes que ocorreram recentemente no estado 'não é de pistolagem'.
De acordo com a delegada, 'são crimes de encomenda, mas que não caracterizam pistolagem'.
No entender de Maria Cristina Meneses, 'pistolagem é quando grupos atuam para tomada de poder ou manutenção de poder e contratam braços armados' para esses fins.
Em relação aos assassinatos no campo, a delegada disse que 'não há disputas agrárias envolvidas'.
'Trata-se de problemas pessoais entre vizinhos, nos assentamentos, ou de acertos de contas do tráfico de drogas, em áreas indígenas', afirmou Meneses.
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